OS POVOS
INDÍGENAS E A FORMAÇÃO SÓCIO CULTURAL BRASILEIRA
→ Quando
Pedro Álvares Cabral chegou ao território que viria a ser reconhecido como o
Brasil, já era habitado há milhares de anos por povos que possuíam diferentes
modos de vida e tradições.
→ Os povos
indígenas e a sua relação com o território
− Segundo a
FUNAI (Fundação Nacional do Índio) – a população indígena brasileira aumentou
de forma significativa nas ultimas décadas.
• Em 2000,
ela era de 328 mil e, em janeiro de 2008, de 530 mil.
Obs.: Pelos
critérios da FUNAI, são considerados índios apenas aqueles que vivem em
reservas já delimitadas.
− Esse
significativo aumento pode ser explicado como resultado de vários fatores:
• A maior
valorização da sua cultura;
• Ampliação
do número de reservas;
• Políticas
afirmativas, como, por exemplo, a reserva de cotas nas universidades públicas;
• Maior
acesso a serviços como saúde e educação;
• Garantia
de vários direitos a partir da constituição de 1988 – como a legalização das
terras indígenas e a gestão dos recursos naturais nela existentes pelos
próprios indígenas;
• Respeito e
valorização do modo de vida do índio.
− Na época
da conquista pelos portugueses havia cerca de 5 milhões de índios neste
território denominado Brasil.
− Apesar de
uma história marcada por 500 anos de violência, existem nos dias de hoje
aproximadamente 200 sociedades indígenas que falam cerca de 180 línguas
vinculadas a dois troncos linguísticos.
• O Macro –
Jê
• O Tupí
− Ainda
existem os povos indígenas sem o contato com as populações não indígenas.
− Existe
grande dificuldade em obter informações a respeito dos povos indígenas – pois
não produziram a escrita e boa parte de sua cultura material foi perdida.
• Várias
fontes históricas sobre esses povos foram produzidas por europeus = visão
eurocêntrica.
• Boa parte
das informações a respeito dos povos indígenas se relaciona aos tupis – estes
habitavam praticamente todo o litoral.
└ A época da
conquista, havia cerca de mil povos indígenas que falavam aproximadamente 600
línguas diferentes.
− No
contexto da colonização – desenvolveu-se uma nova língua a partir da
disseminação do Tupi e da incorporação de inúmeras palavras da língua do
colonizador = LÍNGUA GERAL.
• Foi
utilizada pelos portugueses para se comunicar com os povos indígenas – em
algumas regiões era mais falada que o próprio português.
− Essas
nações indígenas de língua Tupi se referiam aos índios de outros troncos
linguísticos como Tapuias = inimigo ou estrangeiro.
− Principais
características dos povos indígenas
•
Inexistência da propriedade privada da terra;
•
Compartilhamento da produção agrícola – dos frutos coletados, da caça;
• Ausência
de organização política mais complexa;
• Cultura
transmitida oralmente;
• Liderança
que detinha o saber cultural de seu povo – era respeitado por ser responsável
por sua transmissão aos mais jovens;
• A prática
da guerra entendida como um verdadeiro ritual – os mais bravos guerreiros
podiam se destacar;
• Prática da
antropofagia em alguns grupos;
• Divisão
sexual do trabalho;
└ Mulheres –
plantio e colheita, coleta de frutos, o preparo dos alimentos e as atividades
ligadas ao artesanato.
└ Homens –
caçavam, pescavam, cortavam lenha, preparavam o solo para o cultivo e
fabricavam canoas e as armas necessárias às batalhas, como arcos e flechas;
• As armas
eram feitas de madeira, uma vez que os povos indígenas não conheciam a técnica
de fundição dos metais, e eram consideradas propriedades pessoais.
• Os grupos
indígenas também tinham os seus rituais de passagem.
− O processo
colonizador, teve um grande impacto sobre o modo de viver e de pensar dos povos
indígenas – até mesmo os rituais que faziam parte da tradição de algumas tribos
passaram por transformações e ganharam novos significados.
→ Os povos indígenas
segundo a visão dos europeus
− Por meio
dos relatos de europeus, é possível perceber qual era a visão destes a respeito
dos povos indígenas: ora aparecessem como “bons selvagens”, de
corpos bem feitos, integrados à natureza e extremamente dóceis (sobretudo nos
contatos iniciais); ora como selvagens ignorantes, violentos e sem fé.
− Os
contatos iniciais entre portugueses e indígenas foram, de uma maneira geral,
amistosos.
• Para a
retirada do pau-brasil os portugueses utilizaram o ESCAMBO – era realizada uma
troca: presentes pelo trabalho dos índios.
− Com o
início do processo colonizador, as relações passaram a ser marcadas, de uma
maneira geral, por conflitos e violência.
• Invasões
de terras indígenas, escravização e até mesmo o extermínio de tribos inteiras
foram uma constante.
└ Na visão
dos europeus, eles tinham direito sobre a terra, afinal a haviam conquistado –
esses direitos se estendiam sobre os povos conquistados que nela habitavam.
− Assim como
os espanhóis, os portugueses também impuseram a religião católica aos índios,
que com o tempo perderam parte de sua identidade cultural.
• Como um
novo cristão o índio deveria viver como um europeu e se vestir como tal.
└ A nudez,
vista inicialmente como a prova da ingenuidade e da inocência do índio, passou
a ser vista como símbolo do primitivismo e do pecado.
└ As
manifestações da cultura indígena, como cantos, danças e rituais, foram
sistematicamente proibidos, ao mesmo tempo em que se impunham os valores da
cultura cristã europeia.
− Porém, foi
apenas com a ajuda dos índios que a colonização portuguesa foi bem-sucedida,
pois eles conheciam as especialidades da floresta, seus caminhos, quais animais
deveriam ser evitados e quais poderiam servir de alimento e quais plantas eram
apropriadas ao consumo.
→ A
resistência indígena
- Para os
povos indígenas da América portuguesa, a violência da dominação imposta pelos
portugueses representou a destruição sistemática de seu universo cultural,
material e espiritual.
− Tanto o
Estado português, quanto a Igreja Católica preocuparam-se, em evitar a
escravização oficial dos povos indígenas.
• Em 1537, o
papa Paulo III, por meio da Bula Veritas
ipsa, sob a justificativa de que os povos da América eram seres humanos
como os outros homens e, portanto, “tinham alma”, não poderiam ser
escravizados, tendo, inclusive, direito à catequese e ao batismo.
• O Estado
português, através do Regimento, documento de 1548 que instituiu o Governo
Geral, legislou sobre a questão indígena, defendendo o direito dos povos às
suas terras.
└ No
entanto, abriu-se uma perigosa exceção ao se autorizar o direito de
escravização das tribos que se rebelassem contra os portugueses e não aceitasse
a catequese = “GUERRA JUSTA”.
− Coma
montagem da agromanufatura açucareira em meados do século XVI, as relações
entre os colonizadores e os povos indígenas alteraram-se radicalmente – de uma
relação relativamente amistosa, passou-se a uma política de pura e simples
escravização.
− A
escravidão indígena revelou-se pouco eficaz, particularmente nas áreas da
grande lavoura de exportação, pelos seguintes fatores:
• A
resistência constante dos nativos;
• A fuga em
massa de tribos inteiras das áreas litorâneas para as regiões de difícil acesso
no interior ou mesmo para a área amazônica, provocando conflitos intertribais;
• O aumento
do preço dos índios cativos;
• A
inadaptação ao regime de trabalho agrícola na grande lavoura;
• Os
interesses maiores da burguesia mercantil metropolitana no tráfico negreiro.
− O primeiro
movimento de resistência que reuniu diversos povos indígenas foi a CONFEDERAÇÃO
DOS TAMOIOS, ocorrida entre 1554 e 1567 na região do Rio de Janeiro, Angra dos
Reis e Ubatuba.
• Os líderes
mais velhos dos grupos indígenas Tupinambá, Goitacá e Aymoré se reuniram e se
organizaram contra a escravidão imposta pelos portugueses.
• Sob a
liderança dos “tamuyas”, isto é, dos mais velhos, e ajudados por franceses, os
tamoios conquistaram inúmeras vitórias contra os portugueses e índios aliados,
como os Guaianá, Termiminó e Carijó.
• Após a
mediação dos jesuítas, Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, estabeleceu-se um
tratado de paz.
└ Contudo,
este foi desrespeitado pelos portugueses, que mataram e escravizaram os
indígenas restantes.
− Outro foco
de resistência indígena ocorreu na região Nordeste, principalmente na capitania
do Rio Grande do Norte – conhecida como GUERRA
DO AÇU, envolveu os Cariri, Caripu e Janduí, que resistiram contra a
ocupação de suas terras no final do século XVII.
• Após
várias batalhas a partir de 1687 com vitórias indígenas – estes fizeram um
acordo de paz – Porém novamente o tratado não foi respeitado – os índios foram
caçados até o extermínio dos Janduí.
− GUERRA GUARANÍTICA – (1753-1756), ocorrida no
extremo sul e motivada pela recusa dos Guarani em abandonar suas terras na
região dos Sete Povos das Missões.
• Em 1750,
Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri, por meio do qual se definiram
as fronteiras americanas entre os dois impérios.
└ Este
tratado anulou de fato o Tratado de Tordesilhas (1494) com base no princípio de
uti possidetis – reconhecia a posse
das terras a quem as ocupara.
└ Por meio
dele Portugal incorporou a região dos Sete Povos das Missões (oeste do atual
Estado do Rio Grande do Sul) e em troca cedeu à Espanha a Colônia de Sacramento,
fundada pelos portugueses em 1680.
• Houve uma
forte resistência de índios Guarani e dos Padres jesuítas espanhóis que os havia
aldeado.
└ Devido a
recusa de ceder a região dos Sete Povos das Missões, foi reprimida por
expedições luso-espanholas que culminaram a morte de milhares de índios e na
escravidão dos sobreviventes.
− O conflito
entre os índios e as populações não índias – se anteriormente a “caça ao índio”
tinha um intuito de escravização, atualmente as invasões são motivadas pela
expansão da agropecuária, da mineração e por iniciativa de grupos madeireiros.
− Apesar de
séculos de repressão, que levou ao extermínio da totalidade de diversos povos
indígenas – a resistência destes, pode ser percebida também pela permanência de
valores culturais indígenas.
− Nem mesmo
o desenraizamento de múltiplas etnias, com o consequente comprometimento e
diminuição de suas áreas de mobilidade espacial, foi capaz de eliminar
tradições, lendas, costumes e rituais, cujas origens são ancestrais.
− Felizmente,
hoje os nãos índios já começaram perceber que, longe de ensinar aos índios, poderiam
aprender com eles.
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